Em 1900, o austríaco Sigmund Freud causou uma revolução no estudo da mente ao publicar A Interpretação dos Sonhos. Nele, o pai da psicanálise contestava a noção bíblica de que os sonhos eram fenômenos sobrenaturais, dizendo que derivavam da psique humana. Decifrá-los, portanto, seria a chave para entender o que se passa dentro da nossa cachola. Essas teorias foram ridicularizadas por muito tempo e somente agora, mais de 100 anos depois, elas estão sendo testadas.
Agora, a explicação de Allan Hobson (na foto abaixo, publicada na Super na edição de dez/2009). E, de quebra: por que não conseguimos lembrar dos sonhos...
Exercícios para o cérebro
Você não precisa se descabelar para interpretar seus sonhos, nem sofrer se não consegue se lembrar deles. Segundo o psiquiatra americano Allan Hobson, da Universidade de Harvard, a principal função dos sonhos é fisiológica: eles são exercícios para o cérebro. Agem como programas que rodam em nossa cachola para mantê-la atualizada, e assim nos preparam para despertar. Surpresa: não tem nada de inconsciente nisso.
Porque o cérebro é ativado enquanto dormimos. Até o século 20, pensava-se que o cérebro desligava durante o sono. Hoje sabemos que ele nunca desliga totalmente e que se ativa de novo durante a fase REM [Movimento Rápido dos Olhos, quando acontecem os sonhos mais intensos]. Essa ativação é interna: como praticamente não entram estímulos do ambiente, o cérebro faz tudo por si só. As imagens dentro dele são tão vívidas que ele pensa que está acordado. E só porque temos dificuldade de nos lembrar delas é que achamos que sonhar é um estado inconsciente – como dizia Freud.
De forma alguma. É um processo mental consciente, que ocorre durante o sono, e que simplesmente não é lembrado. Sonhar é hiperconsciente: os surrealistas diziam que seus sonhos eram mais intensos do que estar acordado.
Por que é tão difícil lembrar dos sonhos?
Porque a química do processo de ativação cerebral também muda durante o sono. Durante a vigília, são secretados altos níveis de substâncias chamadas neuromoduladores [que influenciam as conexões do sistema nervoso]. Porém, quando o cérebro se ativa no sono REM, três delas são “desligadas”: serotonina, norepinefrina e histamina. E como nossa memória é altamente dependente delas, a maior parte dos sonhos não é registrada. Para se lembrar, você precisa acordar e “ligar” essas substâncias de novo.
Quer dizer que o sonho é um estado de consciência paralelo?
Exato. Eu faço a distinção entre a consciência do sonho (primária) e a consciência na vigília (secundária). Quando despertos, nós somos conscientes do mundo exterior e de nos mesmos. Temos memória, organizamos pensamentos e controlamos percepções e emoções. Ao sonhar também somos conscientes: temos percepções e emoções, embora não reconhecemos que tudo não passa de um simulacro, às vezes bem bizarro. O importante é que a consciência do sonho nos prepara para a consciência na vigília.
De que forma?
Os sonhos reprogramam o cérebro e atualizam nossa capacidade de nos mover, pensar, sentir. São como exercícios do cérebro, que você pratica pelo menos 1 hora e meia por noite. Eles ligam atividades sensoriais e emoções, antecipando a vigília. Apenas a memória não é ligada.
Então não importa se a pessoa não se lembra do sonho?
Do ponto de vista psicológico, lembrar do sonho pode até ajudar você a entender algo. Mas do ponto de vista do cérebro, não é importante. Conheço muita gente competente que nunca se lembrou de nenhum sonho. É como numa caminhada: você não se lembra de cada passo que deu, mas o corpo sabe que se exercitou.
Sem dúvida as experiências têm algo a ver com o sonho. Mas você se conhece e sabe que isso não é tudo, certo? Há sonhos de todo tipo: felizes, tristes, ansiosos, sexuais... E até onde sabemos, só uma pequena parte é determinada pela experiência. Muitos são determinados por seu cérebro. Ele não sabe se você será atacado ou seduzido amanhã, por exemplo, e por isso precisa se preparar para tudo. Então, ele roda todos os programas quando você dorme. Mesmo numa guerra, a pessoa ainda pode sonhar com coisas que aconteceram 20 anos antes ou que nunca aconteceram. Portanto, não é que as experiências sejam irrelevantes, e sim que muitas delas são antecipadas e guiadas enquanto dormimos.
O sono REM ocorre já no último trimestre da gravidez. Ou seja: antes mesmo de você nascer, seu cérebro é ativado e um tipo consciência primária acontece. E o objetivo desse estado de consciência primordial, que foi esquecido, é ativar o cérebro de uma forma muito parecida como será ativado na vigília. No primeiro ano de vida, você passa várias horas por dia com essa ativação cerebral. Ela organiza seus neurônios, estabelece as conexões, enfim, faz todo o necessário para que você possa ir à escola depois.
Estou andando de bicicleta em Londres e tenho na garupa uma tesoura de poda de árvore. O que estou fazendo ali? Por que isso está acontecendo? Será que devo fazer uma interpretação simbólica desse sonho? Ou pensar: eu não ando mais de bicicleta, mas meu cérebro ainda sabe fazer isso. Meu cérebro supõe que seja em Londres – olhando para os ônibus de 2 andares – e tudo isso é parte de minha consciência antecipatória. Por que levo uma podadeira? Freud diria que tem a ver com castração ou ansiedade. Mas provavelmente a podadeira é uma lembrança que está no meu cérebro e que emerge numa combinação aleatória por motivos que não entendemos completamente.
Não digo isso. Digo que agora conhecemos a base fisiológica dos sonhos, o que não significa que eles não tenham significado psicológico. É tentador para muitos jornalistas escrever que minha teoria é anti-freudiana. Mas o ponto é: muito do que sabemos agora sobre o funcionamento do cérebro Freud não tinha como saber em sua época, apesar de ter sido brilhante. Assim, muitas hipóteses psicológicas sobre os sonhos são restringidas pelo que sabemos hoje.
Achei muito interessante o artigo, os sonhos sempre vão ser um dos grandes mistérios da mente humana. E falando de sonhos, não perca La Vida es Sueño, no Teatro San Martín.
ResponderExcluirHola Matías,
ResponderExcluirlegal que gostou. E obrigado pela dica da peça, vou lá seguro.
Abraço!
Dudu, amado, da tia!
ResponderExcluirJá li, reli e confesso: agradei nauummm rsrs. Tudo bem que os neurocientistas têm muito mais a acrescentar do que Freud no século XIX. Mas não é desconsiderar a 3ª grande ferida narcísica, vivida pelo HOMEM? Narcisistas como somos rsrs, o reconhecimento do Inconsciente é "ressentida" muito mais do que Copérnico e Darwin agarradinhos.
Beijuuss
Rê
www.toforatodentro.blogspot.com
Simplesmente amei, ainda hoje perguntei ao meu marido sobre sonhos. Muito louco chegar em casa e ler isso. beijos
ResponderExcluirBOA TARDE!
ResponderExcluirGOSTARIA DE SABER COMO EXPLICAR TER UM SONHO E ACORDAR COM O EFEITO DELE TIPO ASSIM:
TIVE UM SONHO ESSA NOITE QUE ESTAVA COMENDO UM PEIXE MUITO RUIM COMO SE TIVESSE MOFO ÓLEO QUEIMADO E POR AI VAI, ACONTECE QUE ACORDEI COM O GOSTO NA BOCA E FICOU MESMO DEPOIS DE TER ACORDADO TIVE QUE LEVANTAR E COMER ALGO QUE TIRASSE O GOSTO MESMO DEPOIS DO LEITE COM MEL AINDA FIZ VOMITO E DORMI COM UM GOSTO MAIS LEVE.
DEVO PROCURAR UM MÉDICO?
BOA TARDE!
ResponderExcluirGOSTARIA DE SABER COMO EXPLICAR TER UM SONHO E ACORDAR COM O EFEITO DELE TIPO ASSIM:
TIVE UM SONHO ESSA NOITE QUE ESTAVA COMENDO UM PEIXE MUITO RUIM COMO SE TIVESSE MOFO ÓLEO QUEIMADO E POR AI VAI, ACONTECE QUE ACORDEI COM O GOSTO NA BOCA E FICOU MESMO DEPOIS DE TER ACORDADO TIVE QUE LEVANTAR E COMER ALGO QUE TIRASSE O GOSTO MESMO DEPOIS DO LEITE COM MEL AINDA FIZ VOMITO E DORMI COM UM GOSTO MAIS LEVE.
DEVO PROCURAR UM MÉDICO?
UM SONHO PODE ME MATAR?
Bom post. Também tenho contribuições sobre esse assunto: http://criteriorevisao.com.br/por-que-sonhamos/
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