terça-feira, 12 de outubro de 2010

Escolher demais faz mal

Vou te falar. A tal da escolha é mesmo uma das coisas mais difíceis de fazer. Em geral bate o frio na barriga: será que é isso mesmo? Eu escolhi fazer Engenharia Elétrica, imagine! Abandonei o curso no terceiro mês de aula, e lá fui de novo fazer outro vestibular para Jornalismo. E não estou falando só de escolhas fundamentais como essa, mas das pequenas escolhas do dia-a-dia que acabam tendo uma dimensão cada vez maior na vida da gente. No tempo da minha avó era fácil: todo mundo tinha praticamente o mesmo terno, a mesma praça pra namorar, o mesmo telefonão preto que pesava 3 quilos.

Mas enfim, queria colocar aqui a entrevista que fiz com uma especialista no estudo das escolhas, a Sheena Iyengar. Ela perdeu a visão na infância, e teve que confiar muito nas outras pessoas para fazer suas escolhas. Isso a fez se interessar especialmente por esse tema. Você pode ler a entrevista também na Super deste mês. Aqui vai o papo um pouquinho mais completo. Espero que escolha ler até o final!



Escolher demais faz mal


E o pior é que somos levados a fazer cada vez mais escolhas. Onde estudar, que carreira seguir, o sabor do sanduíche, o modelo do carro, o tipo de celular, a marca da TV, a escola do filho, o cereal do café... Por isso, Sheena Iyengar não sai fazendo escolhas o tempo todo. E ensina como devemos agir ante tantas opções à nossa volta no livro The Art of Choosing (“A arte de escolher”, inédito no Brasil). Filha de indianos criada em Nova York, ela é professora de negócios na Universidade de Columbia, EUA.


Eduardo Szklarz


Por que ter escolhas demais pode nos levar a decisões piores?

Para fazer uma escolha, você precisa comparar e contrastar todas as opções disponíveis. Se tiver opções demais, o processo de escolha pode se tornar pesado e confuso. Em vez de tomar decisões melhores, acabamos sobrecarregados. Nos sentimos cada vez mais obrigados a escolher só porque as escolhas estão disponíveis para nós. Em muitos casos, isso termina em frustração.


Poderia dar exemplos?

Nos anos 90, realizei um estudo num supermercado dos EUA com potes de maionese. Alternamos duas mostras na estante: uma com 6 sabores e outra com 24. Vimos que 60% dos clientes foram atraídos pelo grupo maior, enquanto 40% pararam diante do grupo pequeno. No entanto, apenas 3% dos clientes compraram um pote de maionese quando havia 24 sabores, contra 30% quando havia 6. Ou seja: a presença de mais escolhas era mais atrativa, mas tornava a decisão mais difícil. Já ouviu dizer que nossos olhos são grandes demais para nosso estômago? Pois parece que nossa mente é grande demais para nossos olhos. Ela nos diz que queremos muitas opções. Mas na hora de decidir, não podemos comparar além de um pequeno grupo.


Isso também vale para a escolha do parceiro, por exemplo?

Sim. Alguns anos atrás, eu e minha equipe demos a estudantes a chance de escolher entre pessoas que gostariam de namorar. Eles podiam decidir entre 10 ou 20 possibilidades. Quando recebiam 10 opções, escolhiam de acordo com sua preferência: buscavam uma pessoa bonita, sincera, inteligente, divertida, e assim por diante. Mas quando se viam frente a 20 possibilidades, deixavam de lado todos esses critérios e escolhiam apenas com base no aspecto físico. Já não conseguiam ter em conta todas as opções. A escolha se tornou um peso.


Então, como devemos agir para fazer melhores escolhas?

Precisamos ser mais estratégicos na maneira de escolher. Reconhecer que nossa capacidade de analisar todas as opções é limitada. Quanto mais você simplificar ou delegar escolhas que não são importantes, mais recursos mentais terá para as que importam. Para mim, por exemplo, é importante pensar sobre como vou organizar um estudo. Nesse processo terei que fazer muitas escolhas, e o melhor é que desenvolva tudo de forma bem metódica. Não me importa tanto o que vestir para ir ao trabalho. Em 3 minutos decido a roupa e o sapato, e assim elimino várias decisões que ocupariam meu tempo. Outras mulheres podem ficar horas pensando no que vão usar. Claro que se essa decisão fosse importante para mim, não a tomaria com pressa. O que digo é: escolha bem o momento em que vai fazer escolhas.


Ter mais escolhas não é ter mais liberdade?

Nem sempre. Para se sentir livre, você precisa perceber que tem controle sobre a escolha. Entrevistamos pais de bebês franceses e americanos que tinham nascido com anóxia cerebral (falta de oxigênio no cérebro) e que morreram com a retirada dos aparelhos. Na França, essa decisão coube aos médicos. Já nos EUA, os pais puderam escolher – mas não se sentiram mais livres por isso. Inclusive se mostravam mais tristes, nervosos e deprimidos que os pais franceses, que não tiveram que arcar com a responsabilidade da decisão. Outro exemplo vem da Inglaterra, onde os pais escolhem entre 5 colégios para mandar o filho, sem ter muita informação sobre cada colégio. Eles têm escolha? Sim, mas não se sentem livres porque acham que a escolha é arbitrária.


Até que ponto a cultura influencia nossas decisões?

Em qualquer cultura, escutamos histórias desde pequenos. E nessas histórias vem uma mensagem sobre a melhor forma de escolha e sobre quem escolhe. Aos 2 anos, uma criança americana escuta do pai: “Que tipo de sorvete você gostaria?” Aos 4 anos, a pergunta é: “O que você gostaria de ser quando crescer?” Essas perguntas trazem implícita a ideia de que uma pessoa deve decidir o que quer. Na Índia, as mensagens são diferentes: “Olhe que bom garoto é aquele. Faz tudo o que o pai lhe diz para fazer” ou “Veja como fulano é feliz no casamento porque seguiu os conselhos dos pais.” Todos nós temos a necessidade de ser únicos. E as decisões que tomamos para alcançar essa individualidade são fruto de uma construção social. Nos EUA, a forma de ser único é criar uma receita que ninguém nunca ouviu falar. Na Japão, é fazer o sushi perfeito. Em certo modo, todos somos motivados a nos distinguir dos demais.


Ao mesmo tempo, queremos ser iguais aos membros do nosso grupo. E ter as mesmas roupas, tênis e carros que eles têm...

Essa é a tensão fundamental que todos sentimos: queremos pertencer e também estar fora. Empresas, países e indivíduos sentem essa tensão e buscam o equilíbrio entre eles e o grupo. Na maior parte do tempo, você gosta do que os outros gostam, certo? Mas se escolher o que todos gostam, corre o risco de se parecer com eles. Assim, deve escolher algo de que não gosta tanto, mas que lhe permita se diferenciar dos demais. E não pode se diferenciar muito – só um pouco, de uma forma que os outros admirem e achem você bacana. Esse é o dilema. Meu marido queria um iPhone preto. Mas quando viu que todos compravam o preto, decidiu comprar um iPhone branco. As pessoas fazem isso o tempo todo.


O que fazer para solucionar o dilema?

Toda escolha é um ato de comunicação. Com ela, mandamos uma mensagem aos outros: “Sou único”. Mas isso pode ser um peso. Assim, creio que deveríamos decidir quando faz sentido para nós ser únicos. Tem gente que não pede a cerveja ou o prato que gostaria no restaurante só porque o casal da mesa ao lado pediu. Faz sentido?


Ter escolhas demais é sempre ruim?

Não. Para um mestre de xadrez que estuda a próxima jogada, ter centenas de opções não é um problema. Ele sabe exatamente o que quer e detecta rápido as jogadas que serão ruins. Assim, não perde tempo comparando todas as opções, como outros fariam. Claro que você não precisa ser um mestre de xadrez. Ao se especializar numa área, você poderá ter muitas escolhas sem que elas lhe prejudiquem.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

David Cope, o compositor ciborgue

Cope e seu computador: "Ele pode compor tão bem quanto Mozart"


Nos anos 80, o compositor americano David Cope arrancou lágrimas da platéia ao estrear a ópera Cradle Falling. Os críticos exaltaram a obra: “Dramática!", "Suprema!", "Cativante!", diziam os jornais. Só não sabiam que tanta inspiração vinha de um programa de computador, chamado Emmy.


Na época, Cope recorreu aos algoritmos para vencer um bloqueio criativo. Hoje, ele diz que suas máquinas podem criar melodias tão belas quanto as de qualquer humano, até mesmo Beethoven. Isso porque, segundo ele, não criamos nada do zero. Apenas selecionamos informações que recebemos e as recombinamos de novas formas. Tal como o computador faz.


Cope é professor emérito de música da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. Não é à toa que suas opiniões causam tanta controvérsia. A Super deste mês traz trechos da entrevista que fiz com ele. Aqui embaixo, coloco a conversa inteira.


Humanos e softwares compõem do mesmo jeito?

Sim, eles essencialmente recombinam sons. Enquanto conversamos agora, estamos recombinando palavras: fazemos diferentes frases com elas para criar distintos significados para as coisas. O computador armazena músicas que coloco na base de dados e recombina partes delas. Os humanos fazem o mesmo.


Quer dizer que Beethoven e Mozart poderiam compor a mesma peça?

Sim. Pode soar arrogante, mas na maioria dos casos isso é o que acontece. Ao compor, as pessoas juntam pedaços de melodias que ouviram e gostaram. Assim, o que chamamos de “inspiração” não passa de uma recombinação inconsciente de coisas que já ouvimos. O resultado parece único para nós. Se for analisado, porém, descobriremos que a música que criamos são pequenas partes disso e daquilo.


Humanos podem expressar o que sentem através da música. Como um computador pode expressar algo que não sente?

Uso computadores para compor só porque eles são muito rápidos e precisos. É um trabalho conjunto: ouço as criações deles e as incorporo nas partituras. Posso fazer tudo o que o programa faz, mas levaria algumas vidas para alcançar o que eles fazem em pouco tempo. É certo que os computadores não podem sentir como nós, mas nada impede que sejam programados para isso. Acordei hoje com dor de cabeça, por exemplo. Mas essa dor não necessariamente tem a ver comigo: pode ter sido causada por algo que comi ontem ou por vários outros fatores.


Como assim?

No universo, as coisas têm uma razão para acontecer. Achamos que temos livre escolha, mas na verdade não temos. Não sentimos nada que não tenha sido programado em nós pela natureza. Somos computadores. Aliás, todo o universo é uma espécie de computador gigante, que está além de nossa compreensão. Portanto, podemos programar os computadores para que tenham a mesma ilusão de livre escolha e de autoconsciência. Talvez isso seja possível no século 26, não sei. Mas é lógico que conseguiremos. Do contrário, ficarei muito decepcionado. Veremos que não somos tão inteligentes quanto pensamos.


Mas como fazer um computador sentir amor, raiva, solidão?

Até agora falei do programa Experimentos em Inteligência Musical (EMI em inglês, daí Emmy). Mas faz 12 anos que trabalho com uma versão mais nova: Emily Hall. Esse programa nos dá a ilusão de que tem auto-consciência e variações de humor, embora não tenha. Ele pode não se sentir do jeito que eu sinto, pois não tem coração ou células nervosas. Mas isso não quer dizer que não possamos criar essas coisas para ele, por exemplo com materiais substitutos da carne. Assim, Emily Hall poderia sentir “dor”. Tenho muita fé no cérebro humano: somos inteligentes o suficiente para criar seres como nós.


Aqui você escuta uma criação de Emily Hall


Emily Howell pode compor melhor que Mozart ou Bach?

O que significa “melhor”? É ser mais votado pelas pessoas? Por esse critério, concluiremos que os donuts são a melhor comida do mundo. Para mim, “melhor” é uma opinião pessoal. Acho que algumas músicas criadas por meus programas são melhores que algumas peças de Beethoven e Mozart. Possivelmente você acharia isso também se as escutasse sem saber quem compôs. Música “melhor” ou “pior” só existe na mente do ouvinte. A maioria das pessoas que dizem que existe música boa e ruim são idiotas. É tudo questão de gosto.


No futuro próximo, acredita que ouviremos computadores em vez de humanos?

Talvez num futuro distante. Hoje, meu programa produz música que soa como uma criação humana e que é significativa ao menos para algumas pessoas. No futuro, haverá menos preconceito com esse tipo de coisa. Na música popular isso já acontece: muitas vezes não sabemos quem compôs certas canções, e garanto que não foram humanos. Já tem artista ganhando muito dinheiro com elas.


Com o avanço das técnicas, os compositores vão desaparecer?

Não, mas vão mudar. Não hesitarão ao usar computadores para compor. Prova disso é o workshop que dou sobre música de computador, cujo público só aumentou nos últimos 8 anos. No mundo todo, compositores estão ensinado essas técnicas aos alunos. Claro que os compositores sempre terão o direito de ligar ou desligar a máquina. E de reescrever os programas.


Sua visão sobre música é bem mais mecânica do que romântica. Como os colegas recebem suas ideias?

Meus velhos colegas sabem que sou um cara legal e que não quero tentar convencê-los. Mas quem não me conhece em geral fica muito bravo comigo, e até gosto disso. Sou uma pessoa muito estranha. Não estou interessado em ganhar elogios, e sim em fazer as pessoas pensar. Gosto de diversidade. Seria muito chato viver num mundo em que todos pensam igual.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Um em cada 5 jovens argentinos toma Viagra



Mais da metade o consome em associação com álcool, maconha ou outras drogas legais ou ilegais

Não, não é que sofram de impotência. Muitos simplesmente entornam todas antes de ir pra cama e depois não dão conta do recado. Para evitar o vexame, recorrem à famosa pílula azul. Outros querem impressionar a gatinha (ou o gatinho) que acabaram de conhecer. E também tem aqueles que desejam garantir o desempenho na hora H, e por isso ingerem o comprimido para espantar o nervosismo.

É o que revela um estudo publicado pelo jornal La Nación em 5 de setembro. Seja lá qual for a motivação, o fato é que 20% dos portenhos de 18 a 30 anos fazem "uso recreativo" de fármacos destinados a combater disfunção erétil. "Hoje os jovens consomem essas drogas porque querem melhorar seu rendimento. E o fazem sem controle médico e sem ter problemas de saúde", disse ao La Nación o médico Amado Bechara, coordenador do Instituto Médico Especializado (IME) e um dos autores do estudo.

A pesquisa também revelou que 53,6% da moçada que toma Viagra o associa com álcool, maconha, psicotrópicos ou outras drogas legais ou ilegais. Daí o risco de queda brusca na pressão arterial, entre outros perigos ainda não totalmente conhecidos. É que o coquetel poderia potencializar o efeito vasodilatador da pílula. Assim, o que prometia ser uma noitada triunfal pode acabar em emergência médica.

Em Buenos Aires, conseguir Viagra é tão fácil quanto uma garrafa de vodka ou um cigarro de maconha. A imensa maioria dos jovens que reconheceram fazer uso da pílula dizem que a obtêm com um amigo, enquanto 17% a compram em farmácia sem receita. Outros 2,9% descolam o "diamante azul" na internet e apenas 4,3% o adquirem em farmácia apresentando receita.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De volta à zona de combate

Casal presidencial: qual será o conflito desta semana?

Durante um tempo eu sonhei em ser correspondente de guerra. Queria ir às áreas de conflito e contar as histórias de quem enfrenta essa realidade. Hoje não preciso de guerra: a Argentina vive um conflito atrás do outro.

Não são conflitos armados como os do Oriente Médio, nem semi-guerrilhas urbanas como a do Rio de Janeiro. Na Argentina atual, a disputa é pelo poder político. E para os Kirchner, tudo é política – a soja, a carne, a imprensa e até o futebol.

Assim, voltar para Buenos Aires após 10 dias em Belo Horizonte foi como sair da zona de paz e retornar ao campo de batalha. O governo está em pé de guerra contra os produtores rurais, a imprensa, os industriais e parte da Justiça, para citar alguns.

Sua mais recente ofensiva foi contra a empresa de internet Fibertel, do arquiinimigo (e ex-aliado) Grupo Clarín, principal conglomerado de comunicação do país. O governo tentou revogar a licença da companhia, numa manobra a la Chávez, mas foi freado pela Justiça. Ainda bem: eu e mais 1 milhão de clientes dependemos dos serviços da Fibertel!

Agora o governo está determinado a acabar com o domínio acionário dos diários Clarín e La Nación sobre a empresa Papel Prensa, que fornece a matéria-prima para a maioria dos jornais do país. O discurso oficial é que Clarín e La Nación se apoderaram ilegalmente da empresa na época da ditadura. É engraçado que só agora, 27 anos depois, Nestor e Cristina tenham trazido essa história à tona. Durante todo esse tempo eles não deram ouvido aos donos dos jornais menores, que sempre reclamaram por ter ficado de fora do bolo.

O problema é que o casal presidencial se tornou especialista em gerar conflitos. Cada discurso é para desqualificar jornalistas, opositores ou empresários que não integram o clube de amigos do poder. Em vez de buscar o interesse comum, o governo age como um setor a mais da sociedade, ou seja, motivado por interesses próprios.

Assim, o noticiário vai a reboque de cada novo conflito. A população pensa que os embates do governo são os embates que importam à Argentina. E o país vai deixando o trem passar...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A ciência é (quase) cega - e nós também

Hoje quero falar de ciência, mas não só dela. Vamos começar com uma pergunta simples. Qual dos desenhos abaixo melhor reproduz a forma da órbita da Terra ao redor do Sol?

Private Universe

Moleza, não? Na minha escola me ensinaram que a órbita da Terra é bem elíptica, e acredito que na sua você também aprendeu isso. Então já podemos eliminar as opções A e B. Lembro de um trabalho que minha professora de ciências passou para a turma: tínhamos que comprar bolas de isopor de tamanhos diferentes para representar os planetas, e cada um deles possuía órbita bem achatada. O Sol ficava no centro do Sistema Solar, o que me remete à figura C. Mas e as estações do ano? Não é que a Terra está mais perto do Sol no verão e mais longe no inverno? Ora, então deve ser a figura D.

Nada disso: a opção mais correta é a letra A. Ao contrário do que a gente aprendeu, a órbita da Terra não é tão achatada. Aliás, é quase um círculo perfeito. A Terra permanece a uma média de 150 milhões de km do Sol durante o ano, com pequenas variações. E o que causa as estações não é a distância entre a Terra e o Sol, mas a inclinação do eixo da Terra (23,5 graus).

Verdade: o ângulo com que os raios solares incidem na Terra afeta a temperatura. Durante o verão, o Sol está alto no céu e o ângulo dos raios solares é quase perpendicular à superfície do planeta, deixando a energia mais concentrada. Por outro lado, quando o Sol está mais baixo no céu, os raios incidem num ângulo mais agudo e se dispersam na superfície. Cada pedacinho de terra recebe menos calor e assim estou eu agora batendo queixo no inverno (veja desenho abaixo). O tempo também é mais quente no verão porque o Sol, ao estar mais alto, fornece mais horas de luz por dia.

Private Universe

Não foi só a minha escola que ensinou errado. No famoso documentário Private Universe, de 1988, a pergunta "por que é mais quente no verão que no inverno?" foi feita a 23 professores e alunos de física da Universidade de Harvard. Com exceção de 2, todos eles responderam que é porque a Terra está mais próxima do Sol no verão. Uma explicação que continua firme e forte até hoje.

Usei esse exemplo para mostrar que carregamos uma porção de ideias erradas sobre muitas coisas, inclusive as que parecem banais como as estações do ano. Uma vez que elas se instalam no nosso cérebro, é muito difícil mudá-las. Como diz o personagem de Leonardo DiCaprio no filme "Inception", essas ideias são mais resilientes que vírus e bactérias. Não vão embora, mesmo quando confrontadas com fatos como esses aí de cima.

Se duvida de tudo o que eu disse, não se afobe. Você não é o único.

Meu erro

Semanas atrás, eu tentei explicar a causa das estações do ano a um engenheiro amigo meu, mas não adiantou. A primeira reação dele foi: quem te disse isso? Por mais que eu insistisse, ele continuava duvidando da "minha tese". Até aceitou que o ângulo da Terra era importante, mas incorporou-o à sua velha crença na distância: para ele, quando um hemisfério está mais perto do Sol é verão, quando está mais longe é inverno.

Bobagem: como explica o projeto Private Universe, a Terra é tão pequena e distante em relação ao Sol que a diferença da distância entre os hemisférios é praticamente desprezível. O planeta está inclusive um pouquinho mais perto do Sol quando é inverno no Hemisfério norte. (Se quiser mais detalhes, visite o site do projeto. Se for professor, vale a pena discuti-lo com seus alunos.)

Portanto, meu erro foi tentar convencer meu amigo dessa nova ideia, indo contra tudo o que ele ouvira desde pequeno inclusive na faculdade de Engenharia. (Será mesmo que agi errado?) Meu amigo então ligou para um físico que conhece. O físico também contestou "minha tese" e repetiu a velha fórmula que aprendera nos livros didáticos: a causa das estações do ano é a distância entre a Terra e o o Sol. Me dei por vencido. Assim como o engenheiro, o físico também não arredava o pé dessa ideia.

O cientista que estuda cientistas

Esse é o ponto aonde eu queria chegar. Os cientistas vivem rejeitando fatos que não se encaixam na tese deles. (Eu disse cientistas, não religiosos ou jornalistas!) Quanto mais comprometidos com a tese, mais chances eles têm de ignorar dados inconsistentes que aparecem nos experimentos. Foi o que o neurocientista Kevin Dunbar constatou ao acompanhar 4 laboratórios de biologia molecular da Universidade de Stanford, o supra-sumo da ciência mundial.

A Superinteressante deste mês traz a entrevista que fiz com o Dunbar, que é professor de psicologia na Universidade de Toronto, no Canadá. Há décadas ele estuda como os cientistas raciocinam na hora de conduzir os experimentos. A conclusão: a maioria ignora achados não previstos na tese inicial, pensando que são erros. E acabam selecionando os dados que confirmam o que eles já acreditavam. (Desde que falei com Dunbar, fico com o pé atrás quando alguém me fala de algo "cientificamente provado"...)

Superinteressante

Em grande parte do tempo no laboratório, diz Dunbar, os cientistas obtêm resultados que não esperavam. Pelo menos 50% dos dados são inconsistentes com sua teoria. Eles encontram uma proteína que “não deveria” estar lá, por exemplo. Sua reação inicial é culpar o método: acham que o dado está errado e que vai desaparecer se mudarem algum detalhe do experimento, como a temperatura. Se o resultado se repete várias vezes, começam a pensar que algo interessante está ocorrendo. No entanto, só uma minoria segue resultados inesperados – que podem levar a uma descoberta.

Essa decisão depende do grau de comprometimento com a teoria. Cientistas altamente comprometidos tendem a ignorar mais dados inconsistentes com ela. Pode ser que nem vejam uma informação que não esperam, o que é um desastre para a ciência. De acordo com Dunbar, a explicação está no cérebro. Há informações demais à nossa volta, e o cérebro precisa filtrá-las. Nesse processo, dados “estranhos” nem serão memorizados. Essa é uma das funções de uma região cerebral chamada córtex pré-frontal dorsolateral: suprimir representações indesejadas.

Para evitar que esses lapsos aconteçam, Dunbar diz que o caminho é tentar mudar as nossas representações. Pensar no problema de outro modo. Veja o caso do Viagra: ele foi inicialmente desenvolvido para problemas do coração. No final dos testes, a droga não melhorou a condição cardíaca dos voluntários, mas eles não quiseram devolvê-la. Por que gostaram tanto? Esse foi um caso de descoberta acidental: os cientistas primeiro acharam que o experimento tinha falhado. Daí prestaram atenção no resultado inesperado – e hoje o Viagra é usado para combater a impotência sexual.

Ok, optar por seguir um dado inconsistente é fácil. Mas o que fazer quando aparecem 50 na frente do cientista?

“Luis Pasteur dizia que a sorte favorece a mente bem preparada”, diz Dunbar. Ou seja: o bom cientista sabe que tipo de dados seguir. Ele dirá: “Hum, isso é interessante, vamos por aqui”. Outros cientistas não mudarão de rumo. Experimentos custam tempo e dinheiro, e eles não vão se arriscar em nome de algo que não conhecem. “Em geral, cientistas precisam decidir entre fazer os experimentos de baixo risco, que garantem emprego e publicações, e os de alto risco, que provavelmente não vão funcionar mas que podem render descobertas”, afirma.

Portanto, segundo Dunbar o sistema científico é parte do problema, pois faz com que os cientistas só se preocupem em publicar. O que importa é o número de publicações. Assim, o que 90% dos cientistas fazem é apenas mudar uma variável de um velho experimento e publicá-lo de novo. Vão mudando detalhes, sem fazer descobertas que realmente contribuam para o conhecimento.

Isaac Newton

Pensamos que o trabalho do cientista é solitário e que a descoberta vem de repente – tal como Isaac Newton descobrindo a gravidade ao ver a maçã cair da árvore. Mas na ciência o raciocínio é feito em conjunto, e a diversidade do grupo é crucial para lidar com dados inesperados. Por isso, Dunbar diz que os encontros informais entre cientistas são fundamentais. É nessas horas que a interação e o raciocínio espontâneo ocorrem livremente. E podem ajudar a pessoa a mudar de ideia sobre um resultado.

"Se o grupo é homogêneo, ter 10 pessoas não é melhor que ter uma, porque todas elas têm a mesma ideia. Não adianta elas terem lido os mesmos livros ou estudado na mesma faculdade. Além disso, é bom ter homens e mulheres na equipe, já que eles não costumam seguir dados inesperados tanto quanto elas", afirma.

Para quem quiser ler os trabalhos do Dunbar, vale uma visita ao laboratório dele. Minha sugestão é o estudo "Do Naïve Theories Ever Go Away?".

quarta-feira, 28 de julho de 2010

As livrarias mais charmosas de Buenos Aires


Elas não têm o maior acervo, não estão na avenida Corrientes e nem encabeçam a lista dos guias que você encontra no aeroporto. Mas são de longe as mais acolhedoras. Como toda lista é injusta, escolhi apenas duas. E começo logo pela minha preferida.

# 1 Eterna Cadencia
São meus metros quadrados favoritos da cidade. Uma típica casa chorizo ("casa linguiça"), cujos cômodos dão todos para o pátio. Construções assim eram comuns em Buenos Aires na virada do século 20, quando imigrantes italianos incrementaram a demanda por moradia. Cada família ocupava um cômodo, e o pátio servia de ligação entre todas as partes, inclusive a cozinha e o banheiro. A Eterna Cadencia cobriu o pátio e o transformou num bar climatizado.

De vez em quando levo o computador e fico trabalhando lá. Não sou o único: muita gente passa horas nesse espaço, que oferece wi-fi grátis, excelente café cortado e medias lunas rellenas. A atenção é de primeira. Se não quiser consumir, tudo bem, ninguém vai te incomodar. A casa serve almoço também - outro dia comi um belo risoto de frango.

Ah, não falei dos livros. O primeiro salão (foto acima) tem literatura, títulos de arte, guias, ensaios e as obras publicadas pela editora da casa - coisa boa, por sinal. Essa é uma das poucas livrarias da cidade que contam com livreiro, a pessoa que realmente conhece cada palmo do acervo e sabe orientar o cliente. Já passei muita raiva em redes de livrarias como Cúspide e Yenny, onde a maioria dos vendedores só sabe buscar por "título" ou "autor" no computador da loja. Ficam perdidos quando você pede uma obra sobre algum tema específico.

No último salão da Eterna Cadência, os livros estão deliciosamente bagunçados sobre a mesa. Outros tantos abarrotam o corredor. Eu gosto dessa sensação de intimidade com os livros. E se você quiser passar um tempinho lendo alguns deles, a dica é escolher o belo sofá da parte de trás do pátio, que dá para o banheiro (impecável, aliás).

A Eterna Cadência (Honduras, 5574, Palermo Hollywood, 4774-4100)
De 2ª a 6ª, de 11h30 às 21h; sábado, de 11h30 às 20h. Domingo fecha.
Como ela fica do outro lado da avenida Juan B. Justo, o melhor é ir caminhando ou de táxi pela rua Honduras, pois só ela dá acesso para cruzar a via de trem. De noite, esse lado parte da cidade oferece restaurantes bacanas, o que será assunto para outro post.


Combina livraria, bar e uma lojinha de disco bem descolada. Frequento desde 2004, quando ainda se chamava Boutique del Libro. Eu costumava ver ali o ex-prefeito Jorge Telerman tomando café e lendo jornal. O acervo é amplo e os vendedores são do ramo, bem focados em arte, música e literatura. Sempre fiquei satisfeito com o atendimento: eles orientam quando você pede, não ficam em cima. É um pessoal bacana (gente joven y copada, como se diz aqui).

Adoro a seção infantil. Dá vontade de comprar tudo. Para quem é fumante, boa notícia: a livraria dedica uma parte hermética do bar para a esquadrilha da fumaça. O banheiro fica em cima (ponto negativo). Os sucos são bons, o que é raro em Buenos Aires. O gerente do café é simpático e os preços são justos - ao contrário do café da famosa livraria El Ateneo.

Se você vai ficar alguns dias na cidade, é bom dar uma olhada na agenda da livraria. Sempre tem uma exposição de arte ou lançamento que vale à pena.

Libros del Pasaje (Thames, 1762, Palermo Soho, entre El Salvador e Costa Rica).
De 2ª a 5ª de 10h às 22h, 6ª de 10h às 23h, sábado de 11h às 23h e domingo e feriados de 14h às 22h.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Argentina dá exemplo com o casamento gay

Não adiantou o Monsenhor Bergoglio ter dito que "o demônio" estava por trás dessa iniciativa. O Senado argentino a aprovou por 33 votos a favor, 27 contra e 3 abstenções. Assim, a Argentina se tornou o primeiro país da América Latina a legalizar a boda de homossexuais. Eu me sinto orgulhoso: finalmente uma boa notícia daqui dos pampas.

Ontem, vendo o debate dos senadores madrugada afora, vi que a desinformação a respeito do assunto é grande mesmo entre os ilustres parlamentares. Muitos usam a expressão "escolha sexual", como se o sujeito "decidisse" ser gay às 4 da tarde de uma terça-feira. Hoje há evidências suficientes para afirmar que a orientação sexual tem um componente biológico. Tanto que a proporção de gays gira em torno de 2% a 5% no mundo todo, sem importar a cultura, a religião ou a opressão de países como o Irã e a Arábia Saudita.

Bergoglio e companhia queriam que a proposta do casamento gay fosse levada a plebiscito. É que eles sabem que a maioria da população rejeita a iniciativa. Mas os direitos fundamentais não são plebiscitáveis. A democracia é feita pela maioria, mas é posta à prova ao garantir os direitos das minorias. É disso que tratam os direitos humanos. Durante o nazismo, a maioria da população alemã apoiou as Leis de Nuremberg, que proibiam os judeus de ter relações sexuais com não-judeus e vice-versa. A maioria também não se importou com a matança deles e dos gays, ciganos e outros "indesejáveis". Sim, meu caro Bergoglio, a democracia deve proteger os direitos das minorias.

Bergoglio e companhia também acreditam que é possível “curar” gays. Mas ser gay não é doença, meu caro Monsenhor. É uma variação absolutamente natural do comportamento humano - e animal, diga-se.

Muitos opositores da lei aqui na Argentina têm medo de que filhos adotados por casais gays serão gays também. Minha gente, ser gay não é contagioso. Garanto que os gays que vocês conhecem são filhos de casais heteros. Além disso, o número de gays não é maior entre filhos criados por casais de homossexuais.

Abaixo eu listo algumas descobertas recentes sobre as origens da homossexualidade. Sei que muita gente vai ler tudo e concluir: “Ok, mas não acho que seja assim” (nossas opiniões sobre alguns assuntos são mesmo sedimentadas, não?). Mas se alguém estiver disposto a sair das trevas do Monsenhor Bergoglio, eu recomendo ler também uma matéria que fiz em 2006 e o livro “Born Gay”, de Qazi Rahman.


A resposta biológica

Em 1991, o neurocientista anglo-americano Simon LeVay, gay declarado, anunciou ter encontrado diferenças em cérebros de homens gays e héteros. LeVay examinou o hipotálamo, zona-chave da sexualidade no cérebro, e descobriu que a região chamada INAH-3 era entre 2 e 3 vezes menor nos gays. "Minhas pesquisas sugerem que algo acontece muito cedo na vida dessas pessoas, provavelmente na vida pré-natal", diz ele.

A pista genética

Veio em 1993 com Dean Hamer, do Instituto Nacional do Câncer, nos EUA. Hamer percebeu que dentro das famílias havia muito mais gays do lado materno. A descoberta atraiu sua atenção para o cromossomo X (mulheres têm dois cromossomos X, enquanto os homens têm um X e um Y). Em seguida, a descoberta: usando um escâner, Hamer viu que uma região do cromossomo X, a Xq28, era idêntica em muitos irmãos gays. O que ele descobriu não foi propriamente um único gene gay, mas uma tira de DNA transmitida por inteiro. A notícia provocou rebuliço, e não era para menos. Mesmo contestada por outros estudos, a conexão entre genes e orientação sexual sugere que as pessoas não escolhem ser homossexuais, mas nascem assim.

Pesquisas com gêmeos

Os pesquisadores americanos Michael Bailey, da Universidade Northwestern, e Richard Pillard, da Universidade de Boston, analisaram gêmeos e viram que, entre bivitelinos, se um deles é gay, o outro tem 22% de possibilidade de também ser. Para os univitelinos, a probabilidade sobe para 52%.

São números bastante superiores à taxa de homossexualidade entre a população (entre 2% e 5%). Bailey e Pillard, portanto, praticamente provam a existência de um componente genético para a homossexualidade. Ao mesmo tempo, praticamente provam, também, que os genes não dão conta de tudo. "Os estudos com gêmeos feitos até agora nos permitem uma estimativa de que até 40% da orientação sexual venha dos genes", diz o pesquisador Alan Sanders, da Universidade Northwestern, EUA.

Hormônios sexuais durante a gravidez

Se os genes não explicam tudo, que outros elementos explicariam? Um deles parece ser o desenvolvimento biológico do feto ainda no útero. E é dessa área que vêm saindo as pesquisas mais promissoras. Uma delas é a teoria dos hormônios pré-natais. A idéia é que os hormônios sexuais masculinos (andrógenos) se conectam às partes responsáveis pelos desejos sexuais no cérebro e influenciam seu crescimento, tornando o cérebro mais tipicamente masculino ou feminino. A conexão dependeria das proteínas receptoras de andrógenos (AR, na sigla em inglês).

Imagine que cada célula do cérebro seja uma casa. As ARs funcionariam como o portão dessas casas, que controla a entrada de pessoas. Sabe-se que a quantidade e a localização desses portões são diferente nos homens e nas mulheres. Cientistas já constataram, por exemplo, que o hipotálamo masculino tem mais ARs que o feminino. Essa teoria supõe que a homossexualidade nos homens é causada por "portões" que restringem a entrada de andrógenos nas regiões responsáveis pela sexualidade, formando um cérebro submasculinizado. Nas mulheres, esses portões facilitariam entradas maiores, construindo uma estrutura supermasculinizada. Tudo conseqüência do número de ARs de cada feto - o que talvez se deva à carga genética.

Vale lembrar que os hormônios importantes não são os que circulam no nosso sangue quando adultos - cujos níveis são iguais em homossexuais e héteros - mas os que atuaram no período de gestação.

O efeito dos irmãos mais velhos

O novo desafio dos pesquisadores é entender quais as origens de um fenômeno recém-descoberto: a existência de irmãos mais velhos parece afetar a sexualidade dos mais novos. É o chamado "efeito big brother". O cientista canadense Ray Blanchard acompanhou 7 mil pessoas e viu que a maioria dos gays nasce depois de irmãos homens e heterossexuais. Blanchard e o colega Anthony Bogaert calcularam que cada irmão mais velho aumenta em 33% a possibilidade de o menor ser gay. Um garoto com 3 irmãos mais velhos tem o dobro de possibilidade de ser gay que outro sem irmão mais velho. Um garoto com 4 irmãos mais velhos tem o triplo. Ter irmãs mais velhas não altera a probabilidade de o menino ser gay.

Para alguns, a explicação está na convivência familiar: depois de dar à luz vários homens, a mãe trataria o caçula como a menina que ela não teve. Os irmãos mais velhos também tenderiam a "dominar" o mais novo, influindo em seus sentimentos sobre si e os demais. Outra hipótese vem da biologia. "Os fetos masculinos talvez acionem uma reação imunológica na mãe ao produzirem substâncias que ameaçam seu equilíbrio hormonal", diz o cientista Qazi Rahman, da Universidade de East London. Segundo ele, o corpo da mãe acionaria um alarme para produção de anticorpos contra proteínas ou hormônios do bebê. Cada novo feto masculino intensifica a resposta, e o acúmulo de anticorpos redirecionaria a diferenciação tipicamente masculina para uma mais feminina, gerando orientação homossexual nos filhos seguintes.

A influência do ambiente

Como os outros pesquisadores, Rahman não nega que fatores ambientais possam entrar na equação. O problema é que ninguém sabe exatamente quais são eles. Não há provas, por exemplo, de que o abuso sexual na infância causa homossexualidade. O número de gays não é maior em lares chefiados por mulheres nem entre filhos criados por casais gays. Tampouco há mais casos de homossexualidade após períodos de guerra, quando os pais se ausentam de casa, o que enfraquece as hipóteses sobre dinâmicas familiares.

Sigmund Freud dizia que mães superprotetoras e pais ausentes poderiam levar o filho a ser gay. Mas Rahman tem uma opinião distinta: ao invés de encontrar a causa, Freud possivelmente enxergou a conseqüência. A superproteção da mãe não seria a origem da homossexualidade, mas um ato de defesa para um filho que é rejeitado pelo pai por se comportar, desde cedo, de maneira feminina.

Fatores biológicos + psicológicos + sociais

Embora a ciência esteja caminhando para a noção de que a homossexualidade é inata, a biologia não é completamente determinante. "Essa predisposição para a homossexualidade vai se manifestar ou não dependendo das experiências de vida da pessoa", diz a psiquiatra Carmita Abdo. Tudo indica que a homossexualidade é mesmo o resultado da interação de 3 fatores: biológicos, psicológicos e sociais, mesmo que esses dois últimos ainda precisem de mais evidências.