terça-feira, 14 de setembro de 2010

David Cope, o compositor ciborgue

Cope e seu computador: "Ele pode compor tão bem quanto Mozart"


Nos anos 80, o compositor americano David Cope arrancou lágrimas da platéia ao estrear a ópera Cradle Falling. Os críticos exaltaram a obra: “Dramática!", "Suprema!", "Cativante!", diziam os jornais. Só não sabiam que tanta inspiração vinha de um programa de computador, chamado Emmy.


Na época, Cope recorreu aos algoritmos para vencer um bloqueio criativo. Hoje, ele diz que suas máquinas podem criar melodias tão belas quanto as de qualquer humano, até mesmo Beethoven. Isso porque, segundo ele, não criamos nada do zero. Apenas selecionamos informações que recebemos e as recombinamos de novas formas. Tal como o computador faz.


Cope é professor emérito de música da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. Não é à toa que suas opiniões causam tanta controvérsia. A Super deste mês traz trechos da entrevista que fiz com ele. Aqui embaixo, coloco a conversa inteira.


Humanos e softwares compõem do mesmo jeito?

Sim, eles essencialmente recombinam sons. Enquanto conversamos agora, estamos recombinando palavras: fazemos diferentes frases com elas para criar distintos significados para as coisas. O computador armazena músicas que coloco na base de dados e recombina partes delas. Os humanos fazem o mesmo.


Quer dizer que Beethoven e Mozart poderiam compor a mesma peça?

Sim. Pode soar arrogante, mas na maioria dos casos isso é o que acontece. Ao compor, as pessoas juntam pedaços de melodias que ouviram e gostaram. Assim, o que chamamos de “inspiração” não passa de uma recombinação inconsciente de coisas que já ouvimos. O resultado parece único para nós. Se for analisado, porém, descobriremos que a música que criamos são pequenas partes disso e daquilo.


Humanos podem expressar o que sentem através da música. Como um computador pode expressar algo que não sente?

Uso computadores para compor só porque eles são muito rápidos e precisos. É um trabalho conjunto: ouço as criações deles e as incorporo nas partituras. Posso fazer tudo o que o programa faz, mas levaria algumas vidas para alcançar o que eles fazem em pouco tempo. É certo que os computadores não podem sentir como nós, mas nada impede que sejam programados para isso. Acordei hoje com dor de cabeça, por exemplo. Mas essa dor não necessariamente tem a ver comigo: pode ter sido causada por algo que comi ontem ou por vários outros fatores.


Como assim?

No universo, as coisas têm uma razão para acontecer. Achamos que temos livre escolha, mas na verdade não temos. Não sentimos nada que não tenha sido programado em nós pela natureza. Somos computadores. Aliás, todo o universo é uma espécie de computador gigante, que está além de nossa compreensão. Portanto, podemos programar os computadores para que tenham a mesma ilusão de livre escolha e de autoconsciência. Talvez isso seja possível no século 26, não sei. Mas é lógico que conseguiremos. Do contrário, ficarei muito decepcionado. Veremos que não somos tão inteligentes quanto pensamos.


Mas como fazer um computador sentir amor, raiva, solidão?

Até agora falei do programa Experimentos em Inteligência Musical (EMI em inglês, daí Emmy). Mas faz 12 anos que trabalho com uma versão mais nova: Emily Hall. Esse programa nos dá a ilusão de que tem auto-consciência e variações de humor, embora não tenha. Ele pode não se sentir do jeito que eu sinto, pois não tem coração ou células nervosas. Mas isso não quer dizer que não possamos criar essas coisas para ele, por exemplo com materiais substitutos da carne. Assim, Emily Hall poderia sentir “dor”. Tenho muita fé no cérebro humano: somos inteligentes o suficiente para criar seres como nós.


Aqui você escuta uma criação de Emily Hall


Emily Howell pode compor melhor que Mozart ou Bach?

O que significa “melhor”? É ser mais votado pelas pessoas? Por esse critério, concluiremos que os donuts são a melhor comida do mundo. Para mim, “melhor” é uma opinião pessoal. Acho que algumas músicas criadas por meus programas são melhores que algumas peças de Beethoven e Mozart. Possivelmente você acharia isso também se as escutasse sem saber quem compôs. Música “melhor” ou “pior” só existe na mente do ouvinte. A maioria das pessoas que dizem que existe música boa e ruim são idiotas. É tudo questão de gosto.


No futuro próximo, acredita que ouviremos computadores em vez de humanos?

Talvez num futuro distante. Hoje, meu programa produz música que soa como uma criação humana e que é significativa ao menos para algumas pessoas. No futuro, haverá menos preconceito com esse tipo de coisa. Na música popular isso já acontece: muitas vezes não sabemos quem compôs certas canções, e garanto que não foram humanos. Já tem artista ganhando muito dinheiro com elas.


Com o avanço das técnicas, os compositores vão desaparecer?

Não, mas vão mudar. Não hesitarão ao usar computadores para compor. Prova disso é o workshop que dou sobre música de computador, cujo público só aumentou nos últimos 8 anos. No mundo todo, compositores estão ensinado essas técnicas aos alunos. Claro que os compositores sempre terão o direito de ligar ou desligar a máquina. E de reescrever os programas.


Sua visão sobre música é bem mais mecânica do que romântica. Como os colegas recebem suas ideias?

Meus velhos colegas sabem que sou um cara legal e que não quero tentar convencê-los. Mas quem não me conhece em geral fica muito bravo comigo, e até gosto disso. Sou uma pessoa muito estranha. Não estou interessado em ganhar elogios, e sim em fazer as pessoas pensar. Gosto de diversidade. Seria muito chato viver num mundo em que todos pensam igual.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Um em cada 5 jovens argentinos toma Viagra



Mais da metade o consome em associação com álcool, maconha ou outras drogas legais ou ilegais

Não, não é que sofram de impotência. Muitos simplesmente entornam todas antes de ir pra cama e depois não dão conta do recado. Para evitar o vexame, recorrem à famosa pílula azul. Outros querem impressionar a gatinha (ou o gatinho) que acabaram de conhecer. E também tem aqueles que desejam garantir o desempenho na hora H, e por isso ingerem o comprimido para espantar o nervosismo.

É o que revela um estudo publicado pelo jornal La Nación em 5 de setembro. Seja lá qual for a motivação, o fato é que 20% dos portenhos de 18 a 30 anos fazem "uso recreativo" de fármacos destinados a combater disfunção erétil. "Hoje os jovens consomem essas drogas porque querem melhorar seu rendimento. E o fazem sem controle médico e sem ter problemas de saúde", disse ao La Nación o médico Amado Bechara, coordenador do Instituto Médico Especializado (IME) e um dos autores do estudo.

A pesquisa também revelou que 53,6% da moçada que toma Viagra o associa com álcool, maconha, psicotrópicos ou outras drogas legais ou ilegais. Daí o risco de queda brusca na pressão arterial, entre outros perigos ainda não totalmente conhecidos. É que o coquetel poderia potencializar o efeito vasodilatador da pílula. Assim, o que prometia ser uma noitada triunfal pode acabar em emergência médica.

Em Buenos Aires, conseguir Viagra é tão fácil quanto uma garrafa de vodka ou um cigarro de maconha. A imensa maioria dos jovens que reconheceram fazer uso da pílula dizem que a obtêm com um amigo, enquanto 17% a compram em farmácia sem receita. Outros 2,9% descolam o "diamante azul" na internet e apenas 4,3% o adquirem em farmácia apresentando receita.